Nos últimos anos, o Brasil vem enfrentando uma preocupante tendência que desafia a percepção comum de que doenças cardiovasculares atingem apenas pessoas idosas. Dados recentes mostram que infartos e acidentes vasculares cerebrais (AVCs) estão crescendo de forma acelerada entre os jovens adultos de 20 a 39 anos, revelando um cenário que exige atenção redobrada de autoridades e da população.
Entre 2013 e 2023, foram registradas mais de 115 mil internações por infarto agudo do miocárdio e AVC nessa faixa etária. O dado mais alarmante é que três em cada quatro casos (75%) ocorreram em pessoas entre 30 e 39 anos.
No mesmo período, 8.837 jovens perderam a vida em decorrência dessas doenças, segundo registros oficiais do sistema público de saúde.
Crescimento expressivo preocupa especialistas
As internações por infarto entre pessoas com menos de 40 anos cresceram mais de 150% nas últimas décadas, conforme apontam os levantamentos. Já o aumento dos casos de AVC foi ainda mais expressivo entre indivíduos abaixo dos 50 anos, indicando uma mudança no perfil dos pacientes que chegam aos hospitais com quadros cardiovasculares graves.
Médicos e pesquisadores alertam que o fenômeno reflete uma combinação de fatores comportamentais, sociais e metabólicos, muitos deles associados ao estilo de vida contemporâneo.
Segundo especialistas em cardiologia e neurologia, sedentarismo, alimentação ultraprocessada, consumo de cigarro, álcool e outras substâncias, além do estresse constante e da pressão da vida urbana, estão entre as principais causas desse crescimento.
A ausência de acompanhamento médico preventivo e o desconhecimento sobre sintomas iniciais também são apontados como fatores de risco importantes, especialmente entre os mais jovens.
Sinais de alerta que não devem ser ignorados
Reconhecer os sintomas precocemente pode salvar vidas.
Os médicos destacam alguns sinais clássicos de alerta:
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Dor ou pressão no peito, que pode irradiar para o braço, mandíbula ou costas;
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Falta de ar e sensação de aperto no tórax;
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Dormência súbita em um lado do corpo;
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Dificuldade para falar ou compreender palavras;
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Perda de força em braços ou pernas;
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Tontura, confusão mental ou visão turva.
Ao perceber qualquer um desses sintomas, a orientação é buscar atendimento médico imediato, já que minutos podem fazer diferença entre a recuperação e complicações graves.
Estilo de vida e prevenção: o maior desafio
Apesar do avanço da medicina e do acesso a informações, os hábitos de vida continuam sendo o ponto mais sensível quando o assunto é prevenção.
Estudos indicam que pessoas jovens estão cada vez mais sedentárias, consomem altos níveis de sódio e gordura saturada e convivem com níveis elevados de estresse e ansiedade.
O cardiologista Dr. Ricardo Mendonça, em entrevista ao portal Saúde em Foco, explica que “as doenças cardiovasculares não escolhem idade. O coração e o cérebro reagem ao que fazemos todos os dias: o que comemos, como dormimos, o quanto nos exercitamos e como lidamos com o estresse”.
A adoção de uma rotina saudável, com atividade física regular, alimentação equilibrada, sono adequado e abandono do tabagismo, é apontada como a forma mais eficaz de reduzir o risco de infartos e AVCs, inclusive entre pessoas com predisposição genética.
Jovens e autocuidado: uma mudança necessária
Para os especialistas, o crescimento dos casos entre os jovens é um sinal de que o autocuidado precisa começar cedo. A prática de consultas preventivas e exames periódicos ainda é pouco comum nessa faixa etária, o que contribui para diagnósticos tardios de hipertensão, colesterol alto e diabetes, fatores diretamente ligados às doenças cardiovasculares.
Campanhas de conscientização têm buscado reverter esse cenário, incentivando a população a monitorar a pressão arterial, manter o peso adequado e realizar check-ups regulares, mesmo na ausência de sintomas.
Além disso, o uso excessivo de telas e longas jornadas de trabalho, somados à falta de descanso e à má qualidade do sono, têm sido associados ao aumento da pressão arterial e à inflamação crônica — condições que favorecem o aparecimento precoce de problemas no coração e nos vasos sanguíneos.
Um alerta que pode salvar vidas
O aumento de infartos e AVCs entre jovens mostra que o cuidado com a saúde cardiovascular deve ser prioridade em todas as idades.
Os números servem de alerta para que governos, empresas e indivíduos repensem o modo como lidam com a saúde preventiva e com o ritmo de vida moderno, que muitas vezes negligencia o bem-estar físico e mental.
Investir em hábitos saudáveis, buscar orientação médica e reconhecer os sinais de alerta são passos fundamentais para preservar o coração e o cérebro — e, com eles, a qualidade e a longevidade da vida.